Como poderia alguém esquecer-se de um menino que foi levado para ser guerreiro? Alguém que não aceitava que segundo a tradição indígena, se nascesse uma criança masculina era entregue aos guerreiros para criá-lo.
A lição devia ter sido aprender a aceitar o absurdo, e assim mais cedo se teria libertado a culpa de um coração atormentado por deixar terminar a felicidade daquele menino ser uma eterna criança.
1 comentário:
Em outro mundo onde a vontade é lei,
Livremente escolhi aquela vida
Com que primeiro neste mundo entrei.
Livre, a ela fiquei preso e eu a paguei
Com o preço das vidas subsequentes
De que ela éa causa, o deus, e esses entes,
Por ser quem fui, serão o que serei.
Por que pesa em meu corpo e minha mente
Esta miséria de sofrer? Não foi
Minha a culpa e a razão do que me dói.
Não tenho hoje memória, neste sonho
Que sou de mim, de quanto quis ser eu.
Nada de nada surge do medonho
Abismo de quem sou em Deus, do meu
Ser anterior a mim, a medizer
Quem sou, esse que fui quando no céu,
Ou o que chamam céu, pude querer.
Sou entre mim e mim o intervalo -
Eu, o que uso esta forma definida
De onde para outra ulterior resvalo,
Em outro mundo.
*Fernando Pessoa*
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