Ciau Bella Italia

No dia 14 de Junho exactamente três meses antes da partida para Itália, anunciei em voz alta (quando tomei a decisão estava remetida ao silêncio do retiro) que um dia iria a La Storta. Só não pensei que fosse tão cedo, mas o Universo deve ter uma Bimby e foi rápido a ‘cozinhar’ este prato apetitoso :P

Para quem não sabe, La Storta é uma pequena capela nos arredores de Roma. O que tem de pequena em tamanho, tem gigante em significado. Para mim, uma certeza que não consegui (nem quis) controlar.
Quando me perguntaram o que ia fazer a Itália sozinha, sem pensar respondi: ‘Vou pôr-me no colo dos deuses!”.

Em Maio, um mês antes do retiro, comprei o livro das férias (na altura o plano ainda era ir a Cuba). Por ‘acaso’, este livro tem vários capítulos passados em Itália. Giro isto das coincidências, não é?

No livro, há uma frase que destaco:
"Deves manter os pés agarrados tão firmemente à terra como se tivesses 4 pernas em vez de duas. Dessa forma podes ficar no mundo, mas tens que parar de olhar para ele através da cabeça. Em vez disso, deves olhá-lo através do coração."

A quem esta frase faz alguma espécie de sentido, prossiga a leitura pois foi isto que fiz nos onze dias que passei em Itália (Se bem que às vezes sinto que tirei ‘os 4 pés’ do chão!).

O meu apelo para ir a Itália (apenas ‘Eu’ e os meus 11 Kg de bagagem) foi o ‘perder a cabeça e olhar com o coração’. Os presentes que recebi foram muitos e estou gata por todos eles. Deixo-vos aqui apenas parte do que vivi.

ROMA - Chuvas e Arco-íris
Apanhei duas chuvadas torrenciais que me deixaram molhada dos pés à cabeça e eu não me ralei nem um pouco. Porque é que não me importei com a chuva? Porque sei que para ver o arco-íris temos que suportá-la, e em Roma eu vi vários!
Além disso, dei asas à criatividade e ‘criei’ um estendal improvisado que resultou na perfeição! Pelo menos para as calças!


Como este ‘ainda’ é um Blog respeitável, não há fotos de como fiquei na parte de cima, mas digo-vos que seguramente ganharia o título de Miss Itália T-Shirt Molhada!

Falando ainda em arco-íris, jamais esquecei aquele que, literalmente, me indicou o caminho para La Storta.


Sabedoria Indiana
Enquanto aguardava pelo comboio que me iria levar a Nápoles, fui abordada na estação por um senhor indiano, que vive na Califórnia há 27 anos e cujo nome já não sou capaz de reproduzir. Com um sorriso que só a maturidade é capaz de trazer, ele olhou para mim e disse: “Sabes, se algo acontece é porque agora é o melhor e às vezes a distância ajuda.”

Piqueniques e Meditação
Quem conhece a Lagartixa sabe que ela é doida por piqueniques! Em Roma, perto de ‘casa’, num jardim ao pé do Coliseu, encontrei o lugar ideal.


Tive sempre por companhia as formigas (mas também o que é um piquenique sem formigas??) e pombos, sempre interessados em ver o que havia na ementa. Não sou apreciadora de animais com penas: galinhas, pombos, gaivotas e afins… Ou melhor, de gaivotas eu gosto. Lembram-me que estou perto do mar, e apesar de não gostar da palavra ‘nunca’, arrisco-me a dizer que nunca seria capaz de viver longe dele! Agora que penso nisto a sério, também gosto de galinhas! Fazem-me recordar os verões da minha infância no Alentejo. E caramba, os pombos são emblemáticos da cidade que me viu nascer: Lisboa!

Foi também neste jardim que meditei bastante. Aí não havia formigas, pombos, o que quer que fosse. Apenas eu e o meu silêncio intenso e revelador.
Meditar não é mais do que dizer à mente “Cala-te um bocadinho sim?”. É algo bem difícil de concretizar e já há alguns meses que me dedico a fazê-lo, mas num jardim de Roma, senti pela primeira vez que o fiz em Plenitude.
Como sei que o fiz? Porque senti que tirei os ‘4 pés do chão’, e ainda assim não vi com os olhos e sim com o coração.



O Local Menos CTT de Roma
Adivinham qual é? Hum, hum…..? O Vaticano!
´É vero!´, o local onde supostamente a Fé é, ou devia ser, vivida em pleno, continua, pelo menos para mim, a ser um lugar onde não me sinto bem. Dentro da imponente Basílica de São Pedro, há guardas tipo PIDE cuja única preocupação é quão fundo é no nosso decote e se temos as pernas ou os ombros ao léu. Isto porque não se pode entrar com estas partes ‘indecentes’ à vista. Será por isso que Deus fez com que nascêssemos nus?
Enfim… lá dentro as pessoas vivem de tudo menos da Fé. Atropelam-se para tirar fotos, falam alto, e não vi ninguém a sorrir (desconfio sempre de pessoas que não sorriem!). Nem 5 minutos lá consegui estar.
Valeu-me um ´bellissimo’ granizado de menta à saída da Basílica.



Fotos de Olhos em Bico
Quando se viaja sozinho há uma desvantagem: Quem tira as fotos?! Ou andamos com um tripé atrás (vi por lá muitos), ou pedimos a alguém a gentileza de captar o nosso sorriso naquele local que mais tarde queremos recordar. Foi o que fiz e descobri meus amigos que não há melhores fotógrafos que os japoneses. Não é surpresa pois não?
Eles tiram-nos fotos de todos os ângulos, várias posições e dizem, naquele inglês com sotaque delicioso:

- ‘É agora, podes sorrir’,
- ´Vá, só mais uma!´,
- ‘Oh, ficaste bem nesta!’,
- ‘Queres que tire mais outra?’, etc, etc, etc.
Por isso, aqui fica o alerta para futuros viajantes.

Bom, devo dizer que os italianos, sobretudo quando vêem uma turista de mapa ou máquina fotográfica na mão se prontificam LOGO a ajudar!

- Ciau tesoro come stai?
- Ciau Bella, posso darti una mano?
- Ciau ragazza mia, posso unirmi a voi?
- E depois… a pergunta chave: ‘Stai sola?’

Safadinhos estes italianos!

NÁPOLES - Pizzas, Futebol, Gritaria e Soutiens XXXXL à janela!
Não me deixou saudades esta peculiar cidade italiana. Achei-a muito suja, caótica e tãooooooooo barulhenta!!!! As ruas são estreitas de maneira a que para pedir sal à vizinha, basta abrir a janela, mandar um sonoro grito e esticar o braço!
Houve porém uma imagem em Nápoles que me emocionou. Esta:


FLORENÇA - O Regresso a Casa!
Já estiveram num local onde, repetidamente, ouviam uma voz a dizer: ‘Eu já estive aqui antes?´, pois em Florença eu digo sem hesitar: ‘Eu já estive lá antes!’. Sinto-me em casa, tudo é familiar; cada esquina, cada janela, cada estátua que espreita e parece brindar-me com um sorriso do tipo ‘Hey bambina, já te vi por aqui!’.
Em Florença comi o meu primeiro gelado italiano; sabor a frutos do bosque e recheio de Ferrero Roché!


Na Ponte Vecchio, vivi um dos momentos mais CTT de toda a viagem a passar pelo local onde, antigamente, os amantes deixavam um cadeado com os seus nomes e lançavam a chave ao rio ficando ligados para sempre.


Antes acharia o gesto piroso, mas hoje, já não tenho vergonha de assumir que acredito do Amor que nos faz andar nas estrelas.


Por ‘acaso’, depois da minha passagem pelos cadeados, fui abordada por um jovem fiorentino (simpático e GIRO!) que me cumprimentou com um sorriso tímido mas disse com convicção: ‘Ciau Bella, io sono Antonio!’. Hum.. o que quer este Antonio? Bom, queria mostrar-me Florença, a sua ‘bella cittá’.
Já disse que ele era mesmo GIRO?
No meu atribulado italiano lá lhe disse ‘grazie’ mas o meu ‘treni’ está quase de partida para Roma. Era verdade, mas também era verdade que mesmo que não tivesse, sei que a minha autenticidade não iria permitir que aceitasse o convite pois não acredito no amor desesperado.

Quando for grande gostava de viver em Florença outra vez! Mais concretamente na Piazza D. Signoria. Poderão visitar-me no Lote 5, mas o mais certo é encontrarem-me deambular por entre as frutas e hortaliças no Mercado Local.


VENEZA - Atravessando Pontes
Que bom foi o regresso a esta cidade labiríntica e mágica. Sophie, ias adorar! Por causa da subida das águas, os pés de Cinderela lá são assim:


Para a despedida, mais um granizado de menta com um sabor que jamais irei esquecer.

PÁDUA - Pensei que a Cidade do Santo António era Lisboa. Estava enganada!
É uma bonita cidade e inteiramente dedicada ao nosso Santo António! Igrejas, ruas, fontes, praças, tudo tem o nome dele. Foi difícil convencer os italianos que ele é português!
Foi em Pádua que conheci um senhor chamado Frederico que afirma com convicção: ´Amare vuol dire avere il coraggio di sognare!’. Concordo em pleno.

VERONA - O Amor Nunca Falha
E já que se fala em Amor, também visitei Verona, a cidade de Romeu e Julieta. Estive na famosa janela da jovem, e apesar do local ser bonito, haver mensagens de amor espalhadas por todos os cantos, senti-me a sufocar. Na minha mente só pairava uma frase ‘Estarei à tua janela!”.


Não consegui parar de pensar na história trágica de duas pessoas unidas pelo Amor Verdadeiro, e separadas por um destino cruel e desnecessário.

Visitei o interior da cada de Julieta e no final, uma imagem tão macabra quanto cómica, arrancou-me o primeiro sorriso do dia.


‘É verdade’, pensei: ‘Nem a morte consegue separar o Verdadeiro Amor. Porquê? Porque Ele Nunca Falha!”



11ª Noite – A Cereja no Topo do Bolo
Com a bênção da TAP

Há uma expressão que diz que querer é poder e a verdade é que há já dois dias que eu tinha um desejo secreto. Passar apenas mais uma noite em Itália. Isto porque acredito, que como na natureza, a nossa vida funciona por ciclos, e o meu desejo era regressar de Itália no dia 25 de Setembro.
Com a greve da TAP, todos os voos foram cancelados.

Acaso? Ou os deuses a responderem ao meu desejo secreto?

Ao contrário de todos os outros passageiros, fiquei radiante com a notícia e estava até disposta a dormir num banco de aeroporto. Mas os deuses foram bem mais generosos. Com a TAP a pagar tudo, levaram-me para um hotel fantástico, com pensão completa, onde até tive direito a buffet vegetariano!

Quando disse que a 11ª noite em Itália foi a cereja no topo do bolo, digo-o literalmente. Fiquei no último andar do hotel, num quarto com um enorme terraço onde tinha apenas um céu estrelado acima da minha cabeça.
Recordei de imediato uma frase que a minha amiga Shiné me enviou por sms a 15 de Junho (no dia a seguir a lhe ter dito que queria voltar a Itália/Roma). A frase era de um livro que ela folheou ao acaso numa livraria e dizia:

‘A não ser que nos importemos de perder o tempo que for preciso a contemplar uma noite de estrelas como o astrónomo das cem noites ou como o amante que um dia encontrei a olhar fixamente para o céu num pequeno terraço de Roma.’

Na minha 11ª noite em Itália, ali estive, vivendo em pleno aquela frase.
Alguém dúvida que estive no colo dos deuses? Eu não.
Tenho Fé, por isso, na página em branco do meu futuro hoje escrevo que 'É una vitta che inizia veramente com il sorriso’.

Para quem não foi comigo nesta viagem, mas que esteve sempre presente, deixo esta música.....



(26.Setembro.2009)