E Agora?

Chegou o dia em que faço como se vê nos filmes e ponho num caixote as minhas coisas. É isso que são, coisas. O que ficará para sempre na minha memória não é palpável. Ainda bem.

As coisas estragam-se, deitam-se fora, reciclam-se. As memórias não. Sejam boas, más ou assim assim, elas resistem. Além disso, as aprendizagens que fazemos com elas, tornam-nos mais fortes e sensatos. Durarão para sempre.

Não resisti e fiz contas. Se elas não falharam,, em 5 anos e oito meses acompanhei 647 adultos.

Fui parte de uma equipa que me faz lembrar as fotos de família: há os novos, os mais velhos, os rostos que mudam com o tempo, há personalidades diversas que se cruzam, membros que entram e saem, há altos e baixos.

A vida não é estática como nos retratos e como escrevi há pouco, as coisas perdem-se no tempo, mas as memórias perdurarão:

- Uma Flor que não murchou na minha cabeceira e continuará sempre viçosa com óculos de sol e malas a condizer
- Um Coxo refilão que descobri caminha mais firme do que aparenta
- Uma Corredora que descobriu comigo a folia do Carnaval
- Um Surfista com quem eu prometi casar (se lhe saísse o totoloto!!!)
- Uma Amante dos Números com quem tive conversas de somar e subtrair
- Um Professor de Ginástica tão veloz que quase não o sentimos parar
- Um Fan de Queen que perdia sempre nos concursos de música mas conhece as propriedades terapêuticas do Nestum
- Uma Teacher com quem falei a trocar os Rs pelos Gs
- Uma Bomboca fanática por dióspiros que hoje já vai de carro sozinha para os ir comprar
- Uma Jerupiga que pede sempre licença para entrar
- Uma Penetra vendedora de perfumes e tuparwares que é tudo menos uma ‘vira-casacas’
- Uma Amante de Números (Parte II) que falhou na vocação pois devia ser motorista em Marrocos
- Uma Fan de Queen (Parte II) com quem a Amizade ainda perdura
- Um Olhar que nos lembra a o Sol Tímido da Primavera
- Uma Vegetariana como eu que conhece as maravilhas do Tofu
- Um Sotaque do Norte comilão que veio do Porto de Pesca atrás de mim
- Uma Loira e os seus ‘ricos filhos’
- Um Sotaque Americano que me atende o telefone com um sincero ‘Olá Linda!’
- Um Informático com quem não tive oportunidade para partilhar um grupo mas partilho a paixão por Carnaval
- Uma Grande Mulher cujo olhar doce não vou perder
- Uma Voz Doce que me ensinou a mexer num extintor
- Um ‘Chocolatodependente’ que teima em guardar as caixas para o caso de ninguém ainda ter percebido
- Um Sotaque do Norte (Parte II) que não se ri quando eu abraço o Pinheiro
Aos dois Capitães que tive no leme e à Capataz que cuida da herdade, eu agradecerei eternamente o voto de confiança, as palavras sábias nas horas de maior aperto e o consolo de saber que mais do que chefes, foram companheiros solidários de um projecto em que todos acreditávamos.
Estou grata.

Chegou o dia onde todos me perguntam 'E agora?'



Agora sinto o vento no rosto e gosto.
Respiro o ar puro e agradeço.
Não sei se a água será quente ou fria e não me importo.
Questiono: E agora? e respondo: Confio.

(29.Dezembro.2009)

1 comentário:

Shiné disse...

E mais vale viver com essa pergunta no coração "E agora?" do que com os "ses" na cabeça... Uma boa "partida" minha querida, com a esperança dos nossos caminhos continuarem entrelaçados desta forma natural e feliz :) o nosso abraço...