Menina dos Olhos Doces

Hoje acordei com um suspiro profundo.
Avizinhava-se um dia longo com uma missão delicada.
Tinha pela frente o culminar da minha semana de interrogações pela Menina de Olhos Doces.

As notícias recordaram-me que não era um dia qualquer. Era o 20ºAniversário da morte de Freddie Mercury.

Quem me conhece, sabe que sou uma apaixonada devota dos Queen e por isso imediatamente recuei no tempo lembrando cada pormenor daquela manhã de 1991.

Nostalgicamente, fui cantarolando uma melodia que nas entrelinhas diz que:

“A lua que brilha é a mesma,
O vento que sopra é o mesmo,
O tempo é apenas uma lua de papel.

Uma nova vida surge.

No silêncio da noite
Deixa a nossa vela sempre acesa,
Nunca esqueças as lições que aprendemos.

A noite fica mais longa,
Mas os sonhos persistem,
Simplesmente fecha os teus olhos.

Tu és tudo, somos tudo, para tudo,
Para todo o sempre.”

O dia foi duro, com muitos momentos de ficar com o coração apertado e pequeno do tamanho de um grão de areia.
Mas como cantava o Freddie, ‘os sonhos persistem’ e no final no dia a Menina dos Olhos Doces dizia-me:

- Sabes quantos anos tenho hoje e quantos faço amanhã?

Eu:
Hoje tens sete. Vais fazer oito mas não é amanhã. O teu aniversário é em Abril!

Menina dos Olhos Doces com um sorriso rasgado:
Não! Hoje tenho zero anos porque amanhã vou nascer outra vez!

É absolutamente extraordinário o poder de encaixe desta Menina.
Com ela aprendi uma imensidão de lições.
Uma, é que na complexidade do nosso ‘Eu’, fechando a porta aos erros, a verdade poderá ficar do lado de fora.

Além disso, há momentos nas nossas vidas em que o pior de se ser prisioneiro, é nem sequer nos ser permitido fechar a porta.

"Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
(Álvaro de Campos)

(24.Novembro.2011)